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Por que NÃO vender uma ação?

02 de julho de 2021

Por que NÃO vender uma ação?

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• Por que é uma das perguntas mais estressantes?
• Cada investimento requer uma avaliação: flor vs. erva daninha
• Erros ou eventos indesejáveis? Sempre o melhor é ser honesto
• Alerta a: fundamentos e ao custo de oportunidade
• Não seja o idiota que fica com as ervas daninhas

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No primeiro relatório do ano, além de desejar um próspero ano para todos, queria responder a uma dúvida repetitiva nas últimas semanas de bull market: por que não embolsar aquele lucro de 50%, 100% ou 200% no papel XPTO3?
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Infelizmente, dado que a resposta não é nem um pouco trivial, termina sendo um dos questionamentos que provocam mais ansiedade nos investidores, especialmente os menos experientes.
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Também não é nada fácil para nós analistas, ainda menos quando você não é dono da sua própria casa de análise. Ou seja, um simples empregado.
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Por um lado, você recebe a frustração dos seus clientes. Como alguém em quem você confiou e te recomendou um papel que já rendeu 100%-200%- 300%-1.000% demora TANTO para tomar a decisão de embolsar o lucro? Será que você é preguiçoso, negligente, covarde, carece de ambição?
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Por outro lado, se você estiver trabalhando para outros (é um empregado), é um assunto que angaria MUITAS brigas com os seus chefes diretos (algumas vezes sem experiência na área de research), e ainda mais com a equipe de marketing.
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Por quê? Porque tudo se reduz a vender relatórios. Vivemos disso, é inegável! Um track record maravilhoso serve para potenciar as campanhas e “ganhar autoridade”. Ao ponto que o mais comum é que no processo de marketing sejam utilizados exemplos de papéis que NUNCA foram recomendações de nenhum relatório da casa e, de fato, até estiveram na lista de companhias proibidas.
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Para aumentar a quantidade de assinantes ou relatórios vendidos, o que importa é despertar a cobiça das pessoas. Nesse sentido, de maneira empírica, está provado que apresentar 100% ou 200% de retorno em termos comerciais tem o mesmo impacto para a “publicadora de relatórios”.
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Então, de que adianta esperar o retorno de 1.000%? Por um lado, o cliente que acabou de chegar vai ficar chateado, porque já não dá para comprar. Por outro lado, aquele mais fiel que comprou no começo, também vai ficar desiludido, porque sentirá que não tem mais emoção, só coceira na mão, ainda mais se o mercado estiver num bull market. Quando até os patos ou piores micos estão voando, o ideal parece ser pegar esse lucro maravilhoso e repetir comprando qualquer coisa! Não é? Por que ficar quieto!?
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Essa pressão aumenta na medida que a memória é fraca e o investidor se esquece do processo que houve por trás dessa recomendação bem-sucedida. Por acaso, você se lembra da opinião que algum colega ou parente lhe deram quando essa empresa “lixo” só lhe dava dores de cabeça?
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Não....o que importa é que esses colegas acabaram de entrar na Bolsa e já conseguiram lucro de 100% em algum papel bem furado, que mal conhecem. Com esses R$500 de retornos, eles já se denominam investidores de longo prazo, começam a sonhar com uma aposentadoria dos sonhos. Ironicamente, como bons investidores fundamentalistas que eles se acham, querem aprender mais. Será que eu consigo lhes sugerir alguma literatura de análise técnica?!
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Diante de tanto problema com os seus chefes, os clientes e o departamento de marketing, você verá que é praticamente uma regra que os analistas se apressem em concretizar um retorno de três dígitos. De fato, se torna uma questão de supervivência e de pragmatismo, pois nos melhores casos, os bônus são sobre a quantidade de assinantes e NÃO sobre o retorno entregue para o assinante.
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Por isso, quantas carteiras do mercado mantêm papéis que já retornaram 400%-1.000%? E de quantas delas o analista que recomendou o papel ainda continua a cargo?
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Você entendeu que em certo nível, por mais que você possa estar certíssimo, para um analista funcionário ser muito cabeça-dura sempre se torna uma questão de supervivência?
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Cada investimento é uma flor, ou uma erva daninha
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Tendo esclarecido a dificuldade do assunto para os próprios analistas, vamos aprofundar na resposta. Para isso, aconselho não se esquecer das duas seguintes frases:
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1. Investir em ações é como ver uma planta crescer.
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2. Administrar uma carteira de ações é como cuidar de um jardim.
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Com certeza, você já deve ter ouvido a primeira frase em algum lugar. Investidores de valor, que prezam pela qualidade da empresa, compram suas ações visando o longo prazo, podendo mantê-las por cinco, vinte, ou até mais anos. Esperar os montantes investidos crescerem pode ser uma tarefa tediosa, pois demora para ver os verdadeiros frutos do seu investimento. No entanto, “não fazer nada” com suas ações também é uma decisão de investimento. De fato, é uma das mais importantes!

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Saber quando comprar uma ação não é uma tarefa fácil. Mas com a prática pode não ser extremamente difícil, especialmente quando você desenvolve uma estratégia clara e conhece seu perfil de risco. Com certeza, não é a tarefa mais complicada quando falamos de investir na bolsa. O verdadeiro desafio está em decidir quando se desfazer (ou não) de uma ação, especialmente quando tudo deu certo e você já atingiu um retorno incrível.

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Nessa hora, você precisa manter a cabeça fria para vencer a cobiça de imaginar o que faria com o lucro, precisa se atrever a analisar tudo de novo com mais profundeza ainda, eventualmente mudando as suas premissas, refazendo os seus cálculos. Se depois desse processo, você perceber que os fundamentos melhoraram, que a empresa tem muito mais a crescer do que você avaliou inicialmente, ou que a sua tese de investimento era excessivamente pessimista, decidir manter o papel pode ser a decisão mais valiosa.

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Já a segunda frase vem do renomado Peter Lynch que fazia a analogia que vender ações boas e manter as más é como cortar as flores e regar as ervas daninhas.
É muito fácil entender o que ele quer dizer com essa frase e nos faz refletir sobre difíceis perguntas, como “Quando devo vender minhas ações?” e “Por que não vender uma ação que já deu 100% de retorno?”.

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Imagine uma carteira de ações como um jardim e você, investidor, é o habilidoso jardineiro que cuidará dele para que cresça e se torne um belo local. Como um bom jardineiro que cuida do jardim, ao tomar a decisão de plantar a semente (sua pequenina ação), regará e cuidará dela com muita atenção, pois espera que no futuro ela lhe dê frutos.
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Com o passar do tempo, a pequena sementinha irá crescer. Primeiramente, ela será um pequeno caule e começarão a surgir flores. Você, zeloso jardineiro, que tem acompanhado o seu crescimento, sabe que a plantinha ainda pode crescer mais e se tornar uma árvore, que dará frutos e flores. Faz sentido cortar a pequena planta para usar a flor antes que ela termine de crescer e possa lhe dar mais frutos para colher? Não.
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Ao escolher investir em uma ação, você espera se beneficiar do crescimento da empresa. Aguarda pacientemente, assistindo de perto como o management e os funcionários trabalham para alcançar as suas expectativas. Se a empresa se provar boa e suas expectativas forem atingidas, você receberá bons retornos de seu investimento.
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Assim como um jardineiro, sempre atento a seu jardim, você ficará atento aos seus investimentos, acompanhando as notícias, os resultados trimestrais e a gestão das empresas. Este acompanhamento é importante para saber a hora de vender. Também não adianta deixar a flor largada esperando que ela gere frutos sozinha.
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Cuidado com a preguiça disfarçada de fé ou de buy and hold
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Uma constante análise sobre os fundamentos é imprescindível, já que o jogo pode virar de uma hora para a outra. Ou seja, quem deixa o jardim à boa vontade de Deus, termina vendo como esse esquecimento custa bem caro. Mais do que um problema de fé, trata-se do castigo merecido para a negligência e a preguiça:

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“Observe a formiga, preguiçoso,

reflita nos caminhos dela e seja sábio!
Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante,
e ainda assim armazena as suas provisões no verão,
e na época da colheita ajunta o seu alimento.
Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso?” - Provérbios 6: 6-11

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Não são poucos os exemplos que o “buy and forget” acabou se tornando um completo pesadelo. Muitas empresas que já foram queridinhas ou até quality acabaram com suas ações virando pó. Quem não se lembra de casos como Contax (atual Liq Participações), PDG, Lupatech, Brasil Insurance (atual Alper), entre outros?
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A resposta para a pergunta “quando devo vender um papel?” é simples, você deve usar a mesma estratégia que utilizou para comprá-lo. Se comprou porque o achava barato, deve vendê-lo quando não o acha mais. Mas não se engane, apesar de que a resposta pareça fácil e até boba, para você chegar a essa resposta, o caminho é longo e muito trabalhoso.
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Se a empresa continua a entregar resultados e melhorar seus fundamentos, qual é o momento em que ela fica “cara”?
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Voltando para a analogia do jardim, quando um jardineiro sabe que está na hora de cortar uma árvore frutífera ou uma bela flor? A resposta também parece simples: quando ela não der mais frutos e parar de crescer, ou então, se ela já lhe rendeu bons frutos, mas você quer uma árvore nova, que lhe dará mais frutos ainda. Como o seu jardim e o seu tempo são limitados, você deve ser meticuloso ao escolher as flores às quais dedicará esse espaço e a sua atenção.
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Ao ficar atento a empresa, você estará mais preparado para saber a hora certa de vender, que será quando já tiver colhido todos os frutos do seu investimento, não tiver mais como crescer, não lhe der mais benefícios ou, como uma flor que apodrece ao adoecer, a empresa não tiver mais as qualidades que o convenceram a investir nela.
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No entanto, é valido destacar que esses eventos devem estar relacionados com as operações da empresa, a capacidade de ela gerar valor para o acionista, os fundamentos que o fizeram comprar o papel.
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Em um jardim, também acontecem eventos indesejáveis, como o aparecimento de ervas daninhas. Estas são as plantas que devem ser arrancadas antes que contaminem e destruam o belo jardim. E assim como nos investimentos, no jardim não dá para sair cortando a árvore inteira porque apareceu um pequeno imprevisto.
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Nós, investidores raiz e de longo prazo não saímos correndo junto com o cardume de sardinhas que se desfazem de um papel quando aparece uma notícia ruim da empresa, ou com um tweet do Trump, fala do Bolsonaro ou decisão do STF. Quantas vezes vemos papeis caindo 5%, 10% por causa de eventos assim? E o que nós fazemos em situações como essa? Nada. Ou compramos mais, se for o caso.

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Não tenha medo de admitir erros ou aceitar o indesejável

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Entretanto, no mundo dos investimentos, haverá momentos em que, infelizmente, as empresas que você escolheu não alcançarão suas expectativas ou você terá cometido um erro. A empresa que você imaginou que se recuperaria, só piora; em vez de ir melhorando o seu conhecimento sobre ela, você vai acumulando dúvidas relevantes sem respostas; ou, você errou na sua tese de investimento ou na avaliação do risco.

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Na nossa vida independente, o nosso primeiro exemplo de companhia na qual decidimos sair pelas razões anteriores foi nas Condor Microcaps: a T4F (SHOW3). Com o decorrer dos meses, o nosso monitoramento nos mostrou uma performance operacional medíocre, ao ponto que começamos a suspeitar que:

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a) os fundamentos e premissas (explicadas no início da recomendação) demorariam bem mais do que o esperado para se concretizar; e

b) que o modelo de negócios da empresa podia não ser sustentável no longo prazo.

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Além disso, graças a uma rotatividade altíssima no management e uma escassa vontade de se comunicar com os analistas sérios do mercado, acumulamos sérias dúvidas sobre a qualidade do balanço e das suas práticas contábeis.

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Os engenheiros de obras prontas reclamarão que o melhor teria sido nem sequer entrar num empreendimento como esse. Concordamos! Com certeza, quem dera podermos pegar um DeLorean para consertar o passado que depois virou obviedade. Já quando você viu que deu tudo errado, fazer o quê? Tentar disfarçar de “buy and forget”, de análise top-down (acreditando nas variáveis macroeconômicas) ou aceitar que somos humanos, tentando aprender do erro?

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Você nunca acertará em 100% dos seus investimentos e, assim como as ervas daninhas, eles prejudicarão sua carteira, tão bem cuidada, diminuindo o retorno. Como um bom jardineiro, você deverá cortar este mal antes que destrua e apodreça o retorno que você tem se esforçado para fazer crescer.

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Com certeza, erramos com a recomendação de Compra nesse papel e ficamos com o receio de que possa virar antes do que o esperado, em função da alta dependência do ciclo macroeconômico. Porém, não me arrependo da decisão, pois, por mais que tenhamos paciência para esperar, devemos sempre considerar a nossa alocação de tempo.

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Na medida que você ganha experiência como investidor, começa a descobrir que essas teses daninhas demandam uma alocação de tempo exagerada, fazendo-o perder oportunidades que podem trazer muito maior retorno, com menor risco. Ou seja, não tenha medo de admitir o erro rapidamente e de conviver com a possibilidade de estar errado nesse tipo de saída. Evite virar um torcedor de um time que não para de ir para o fracasso e que só dependerá de um milagre.

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Esteja alerta à mudança de fundamentos

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Quando comprou as ações, você teve um motivo. A empresa tinha uma história, estava em um setor que lhe agradava e seus fundamentos também.

Porém, a compra da ação é apenas o início do investimento. Ao decidir comprar, você entendeu do que se tratava a empresa e viu motivos para comprar suas ações. Entretanto, é preciso estar atento às notícias e entregas de resultado, para saber como está indo o negócio no qual você agora é sócio.

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Se a empresa continua a mesma e mantém os motivos que o fizeram investir pela primeira vez, significa que ainda pode continuar a entregar retorno a você, investidor. Caso ela tenha mudado os fundamentos e não mais agrade a sua filosofia ou não faça sentido dentro da sua carteira, significa que está na hora de considerar a venda.

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Não é o preço no home broker que lhe dará motivo para vender: é a mudança de fundamentos. Portanto, para ter um motivo para vender, você deve acompanhar a empresa, não o preço na tela do computador. Não estamos falando que o preço não importa, só que ele não deve ser o único driver para a venda.

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O Valuation e o preço importam, mas acompanhar a empresa de verdade, suas operações, visitando as fábricas, conversando com o management é mais importante ainda. Por exemplo, não adianta comprar a companhia só porque ela está barata se ela for um lixo, movimento que, inclusive, nesse cenário de bull market, já estamos vendo acontecer.

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O custo de oportunidade: quais são suas melhores opções?

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No entanto, também temos que considerar o custo de oportunidade dos investimentos. Assim como em um jardim, no qual você tem o espaço limitado, para seus investimentos você tem a limitação do capital. Portanto, é um motivo válido se o preço de venda lhe parecer justo ou convidativo, sendo que poderá obter um retorno muito melhor em outro ativo.

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Então, pense na seguinte situação. Você, investidor, hipoteticamente comprou duas empresas. A empresa A e a empresa B. Escolheu investir nela por acreditar que daria bons retornos futuros, analisou os números e está acompanhando as empresas. Observa as notícias e os resultados trimestrais, reflete sobre elas e está atento ao que a gestão está fazendo. A empresa A está rendendo 120% no ano, enquanto a empresa B está com -30% de retorno no ano.

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Depois de ler tudo o que já escrevi, você, leitor, que agora imaginando como um jardineiro faria, pensará “Hm, qual dessas duas devo regar e qual devo cortar?”. Bom, a empresa A é uma verdadeira mina de ouro, deve ser a flor, e a empresa B, que está dando prejuízo, deve ser a erva daninha que será cortada, certo? Errado.

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Volto a repetir. Preço no home broker não deve ser o principal driver para a venda!

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No curto prazo, os preços oscilam. Se as suas duas empresas, A e B, continuam com os mesmos fundamentos e mantêm as expectativas de crescimento, não há motivos para vender nenhuma delas. Por isso é tão importante que, depois da compra, você fique atento. Só assim saberá o momento certo de vender.

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Não seja o idiota que fica com as ervas!

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No livro “Errores de grandes empresarios” de Bob Sellers, encontramos a frase de Peter Lynch em que ele diz que vender ações boas e manter as más é como cortar as flores e regar as ervas daninhas. Ele fornece um bom exemplo para visualizar o que argumentei até agora.

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Peter Lynch explica como ele comprou as ações da Home Depot em 1982 ou 1983 e, segundo suas próprias palavras, como um idiota, as vendeu dois anos depois. Para entender o tamanho do erro, vamos ver o que ocorreu com essas ações num período de 15 anos.

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Pegamos a série histórica das cotações da Home Depot, ajustada por qualquer tipo de agrupamento, desdobramento, dividendos e afins. O gráfico causa uma impressão errada para nós. Em 1983 parece que Lynch saiu com um retorno ínfimo e realmente, como ele mesmo diz: foi um idiota. Mas aí temos um problema de escala, na verdade, nesses dois anos, o papel se multiplicou por 11x! Lynch realmente reconhece que não acompanhou a empresa de perto e vendeu pensando apenas no retorno que havia obtido (dois erros que citamos acima).

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Olhando para um período maior, de 1981 até 1995, dá para entender qual foi o tamanho do erro de Peter Lynch. Se analisarmos desde que ele vendeu as ações até o ano de 1995 o valor do papel se multiplicou mais 20x. Se considerarmos de 1981 até 1995 foram 250x. Lynch parou em 10x.

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Claro que olhando para o passado é fácil criticar. Pensem quantas pessoas realizaram o lucro durante esse período e quantas suportaram a desvalorização de 20% de 1992 para 1993.

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Analisando de perto, Lynch comprou as ações da Home Depot no começo da empresa e vendeu cedo demais. Foi um erro que poderia ser evitado se tivesse feito um acompanhamento próximo. Saberia que, no longo prazo, era muito provável que a empresa tivesse sucesso.

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Isso nos leva ao seguinte pensamento. Em 1995, com um papel que valorizou 240x em 15 anos, devo me desfazer dele? A empresa tem para onde crescer?

Olhando apenas o preço, não dá para saber!”

Aposto que foi essa sua resposta agora.

Quem acompanhou o case de perto, analisou a empresa, fez os cálculos, provavelmente chegou à conclusão de que ainda tinha um futuro muito promissor pela frente, como veremos no gráfico abaixo.

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Hoje, a empresa está sendo negociada a quase U$240.

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Ela passou por alguns momentos de baixa: a partir de 1998 e principalmente durante a crise de 2008. Mas, no longo prazo, durante quase 40 anos de história, teve uma valorização incrível.

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E o famoso e riquíssimo Peter Lynch? Se contentou com um retorno de 10x o seu investimento. Agora dá para entender por que ele se autocritica tanto nesse caso.
Quem vendeu o papel junto com Lynch, ou em 1995, perdeu a chance de continuar a ver o seu dinheiro aumentar e de realmente ficar rico. Se alguém comprasse U$100 em ações da Home Depot em 1981, hoje poderia vendê-las por U$757.000. Teria cortado a flor e não poderia aproveitar do jardim (ou até floresta) que a pequena semente virou.

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Investir não se trata de escolher um determinado percentual para vender sua ação. Se assim fizer, irá cometer o grave erro de cortar as flores e árvores que ainda não terminaram de crescer e deixará em seu jardim apenas ervas daninhas, que prejudicarão o crescimento de futuras plantações que você venha a fazer. No final, terá apenas um terreno doente e infrutífero.

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Porém, se tomar a decisão de, como um paciente investidor, esperar as plantas boas crescerem para colher dos frutos e cortar logo o mal antes que se prolifere, no final terá um belo jardim para desfrutar.

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Estamos vivenciando uma situação muito similar a essa com um de nossos papeis da Operação Condor. Foi a primeira recomendação da nossa casa e, coincidentemente, a que trouxe mais retorno até hoje, já ultrapassando os 520%. Acho que todos sabem de quem estamos falando, a construtora Trisul (TRIS3). Para mostrar o desempenho do papel desde que o recomendamos vamos colocar um gráfico abaixo.

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Como vocês estão vendo pelos últimos relatórios, não param de chegar boas notícias da Trisul. A empresa continua a ter crescimento em VGV de vendas, lançamentos, apresenta contínuas melhoras de margens, é caixa líquido, só precisará se alavancar em 2021. Recentemente, além de ter comprado uma grande quantidade de terrenos, tem tido muito sucesso nos últimos empreendimentos. Para condimentar um pouco mais a tese, o cenário parece ótimo para o setor da construção: as reformas no país estão avançando, a economia parece estar finalmente retomando e os juros estão na mínima histórica.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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Agora, se olharmos para trás, para o nosso primeiro relatório, quando recomendamos a Trisul. Entramos com o papel a R$2,60 e com um preço alvo de R$4,20, o que significaria um retorno de aproximadamente 61%, maravilhoso, não? Com certeza.

No entanto, a partir desse momento ficamos alertas a tudo o que ocorria, acompanhando bem de perto. Com isso, conseguimos mudar nossas premissas iniciais, revisar os cálculos e perceber que, no fim, ainda tínhamos vários frutos a recolher da Trisul. E é pelo mesmo motivo que não estamos nem um pouco preocupados ou ansiosos para nos desfazer do papel com o nosso retorno atual, mesmo que ele seja maravilhoso.

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O queremos mostrar para vocês, assinantes, é que quando “não fazemos nada” com o papel, também estamos tomando uma decisão de investimento importante. E como dissemos no começo, talvez seja o mais difícil acertar a hora ótima de saída.

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Muitas vezes respondemos perguntas de diversos clientes sobre por que não nos desfazemos de tal papel, já que ele nos retornou 60-100-200%. Isso nos frustra muito, pois está bem longe de ser um argumento válido por si só. Também nos preocupa que não estejamos explicando da maneira certa como funciona o nosso processo de investimento em ações.

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Se para ganhar convicção numa tese de investimento, normalmente demoramos meses ou anos, não nos parece razoável nos apressarmos na saída. Seria um desrespeito com vocês e para o nosso próprio trabalho. Não existe razão para que não haja um processo reflexo na saída que implique um processo de análise, fundamentos, performance e, é claro, números.

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Logicamente, nem sempre vamos acertar. Vai ocorrer de chegarmos a ter 100% de retorno em um papel e ele desvalorize rapidamente, e nós cheguemos à conclusão de que ele não nos dará mais frutos e, portanto, recomendemos a venda 60% de retorno (por exemplo).

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É claro que quem achou que deveria vender com 100% ficará decepcionado, e é por isso que você, assinante, também precisa acompanhar os seus investimentos, fazer suas próprias análises e, se discordar de nós, nos contatar, argumentar e até tomar decisões diferentes das nossas.

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Nós estamos aqui para auxiliar vocês a colher o máximo de frutos dos jardins de vocês, mas com certeza não estaremos sempre certos. Portanto, uma parte relevante do processo tem que vir de cada um de vocês, ao analisar a própria carteira, entender seu perfil de risco e horizonte de investimento.

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