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A coisa mais importante

A coisa mais importante

07 de agosto de 2018
Por Carlos Herrera
Ao encontro com um dos ídolos do value investing
 
Como já tenho comentado outras vezes, uma das partes mais gratificantes de ser analista de ações é poder ter a oportunidade de conhecer grandes investidores, economistas ou policy makers (decisores de políticas públicas). Esse foi o caso na última quinta-feira, 2 de agosto, quando pude conhecer ao vivo um dos grandes ídolos do value investing: o gestor Howard Marks. Ele é Chairman da famosa gestora Oaktree (que gere acima de 120 bilhões de dólares) e autor do famoso livro The Most Important thing e de cartas que são leitura obrigatória no mercado.
 
Na sua apresentação, ele expôs a sua filosofia de investimentos e aproveitou para responder às perguntas da plateia. Foi muito legal ir tomando nota da simpleza com que ele explicava e ainda mais ter a oportunidade de fazer-lhe umas perguntas pessoalmente. Quais foram? Você verá mais abaixo.
 
Sobre as inspirações para o livro, destacou-se Nassim Taleb com Fooled by randomness, ao mostrar-lhe que mais coisas podem passar das que realmente acontecem. Ou seja, se nos EUA é impossível montar uma carteira tentando predizer o futuro, imagine aqui no Brasil! Por isso, ele foca na análise bottom-up, que se preocupa de entender bem cada ativo mais do que alocar pensando nas projeções de cenários macro (top-down).
 
Chave na sua filosofia é tentar jogar defensivamente, dada a impossibilidade de acertar consistentemente. Ou seja, temos que tentar sempre minimizar o risco de perda, o que ele exemplificou com bonds.
 
Ao avaliar a escolha entre os AAA (mais seguros, com menos risco) e B (especulativos com risco de default), você deverá ser ciente de que os primeiros só têm risco de queda em caso de surpresas desagradáveis; enquanto, se você comprar um bond B que consiga sobreviver e pagar, as surpresas virão na alta. Portanto, nesse caso, você deve preocupar-se de aprender a discriminar bem aqueles que sobreviverão daqueles que explodirão ou, no caso dos supostamente menos arriscados, deve aprender a evitar aqueles que poderão trazer surpresas negativas.
 
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Howard Marks

 

 
Ele nos lembrou de três grandes adágios:
1.     O que homem sábio faz no começo, o tolo faz no final. Por exemplo, cuidado com seguir aqueles supostos consensos. Ir à Bolsa quando o cenário parece maravilhoso e até o Jornal Nacional recomenda.
2.      Nunca se esqueça daquele homem de 1,80 metro que se afogou num rio de média de profundeza de 1,5 metro. Mais importante com que acertar na média, é poder sobreviver todos os dias.
3.     Estar muito adiantado não difere de estar errado. Se você estava se posicionando diante de uma crise, mas o mercado foi em alta durante os três anos seguintes, não adianta na crise posterior (elas sempre chegam algum dia!), gabar-se de que estava certo, mas errou o timing. Aceite que simplesmente perdeu o bonde! E aprenda as lições correspondentes.
 
Assim é como ele resumiu a filosofia de Oaktree:
1.       Primordial é o controle de riscos.
2.       Enfase na consistência.
3.       Importância das ineficiências de mercado. Como diz o Warren Buffett, se o mercado fosse eficiente, ele seria um mendigo pedindo esmola na rua.
4.       Benefícios de se especializar.
5.      Projetar a macro não é critico ao investir. Mais do que acertar no dado do PIB ou inflação, eles procuram estar abaixo do mercado em termos de risco do portfólio e assim, performar melhor nas baixas e, dado que são mais defensivos, são cientes de que não necessariamente ganharão da média nas altas.
6.      Repúdio ao market timing. Difícil é acertar quando ficar 30% ou 40% em caixa ou justo o no momento certo de entrada. Se você entrou em ações deverá saber aguentar nas perdas. O jogo é de longo prazo e deverá ter estômago.
 
 
Tudo isso implica que eles queiram investir quando todos estão aterrorizados, muitas vezes em ativos que a maioria pensa que são mais arriscados. O segredo está em entendê-los o suficientemente bem para poder detetar essas assimetrias, não em pegar ativos arriscados só porque em teoria retornarão melhor, porque isso não é certo.
 
Por isso é que no mundo atual em que os baixos retornos fazem com que os investidores estejam tomando muito risco, ele não se esquece de balancear sempre entre o risco de perder dinheiro e perder oportunidades. Hoje, dado que ele enxerga menos oportunidades, prefere estar mais à defensiva, cético.
 
No final das contas, o que lhe permitiu ser agressivo na crise de 2008-9 foi ter dinheiro para gastar e ter os nervos de aço para investi-los. De fato, para quem seguiu essa estratégia, nem sequer tinha que se importar muito com o ativo. Deu-se bem de qualquer jeito!
 
As minhas perguntas para ele foram se lembrava de alguma época em que ele tivesse se dado bem investindo aqui no Brasil e qual éra a sua visão sobre aplicar o value investing nos nossos ativos.

Sobre ativos específicos ele disse que não ia falar, mas que ele veio em janeiro de 2016 (a última viagem dele), viu que o ambiente era de completo pessimismo (ótimo sinal!) e focou em comprar dívida, que vendeu durante 2017. Hoje ele viu que está tudo rodando em função das eleições presidenciais. Dado isso, ele enxerga que boas oportunidades aparecerão.
 
Nesse sentido, ele recalcou que dada a volatilidade do país, ele não considerava Brasil como terra de Buy and Hold (compre e fique), mas como lugar onde conseguir posições oportunísticas.
 
Para mim, isso faz sentido, pois num mercado extremamente oscilante como o nosso, graças aos frequentes cisnes negros, vão aparecendo oportunidades assimétricas às quais devemos estar alertas. Não adianta ficar reclamando de que não dá para comprar e esquecer (como alguns mal-entendem Buy and Hold), mas para aproveitá-las.
 
É só desse jeito que se pode compensar o maior risco e volatilidade imperantes. Por favor, não se esqueça de enviar qualquer sugestão ou dúvida ao meu e-mail: cherreracondor@gmail.com ou no meu Twitter @HerreraCondor. Para receber mais conteúdo como este, inscreva-se na nossa newsletter clicando aqui.
 
Um grande abraço para todos!

Carlos Herrera, CNPI

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